sábado, 11 de julho de 2009

Crença na evolução?!?

Membro: CAMILO
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O cérebro humano tem uma espantosa (e inata) inclinação para a crença. De forma contínua, nossas mentes assimilam, produzem e buscam conciliar proposições acerca de nós mesmos bem como acerca do mundo à nossa volta, cada uma delas apresentando-se como proposições verdadeiras sobre aquilo de que tratam.

E, ao contrário do que muitos possam pensar, tanto acreditar em algo factual quanto acreditar em algum valor moralou ainda algo metafísico por definição, por exemplo, constituem bem mais do que uma preferência pessoal. Nas palavras de Sam Harris, que atualmente dedica-se no campo da Neurociência ao estudo da crença:


Crenças factuais como “a água é duas partes hidrogênio e uma parte oxigênio” e crenças éticas como “crueldade é errado” não são expressões de mera preferência. Acreditar de verdade em uma proposição (quer sobre fatos quer sobre valores) é também acreditar que se a aceitou por razões legítimas. É, portanto, acreditar que se está em conformidade com uma variedade de normas (por exemplo, que se é mentalmente são, racional, que não se está mentindo para si mesmo, que não se é excessivamente preconceituoso, etc.).


Quando nossos cérebros assimilam uma proposição qualquer como verdadeira, as áreas que se ativam são precisamente as mesmas que participam de nosso reconhecimento de sabores, de odores, de sensações quanto a objetos concretos, que nos faz percebê-los no ambiente circundante. Em outras palavras, quando acreditamos que algo seja verdade, a forma como o cérebro processa essa informação e a arquiva faz com que o dado em si adquira de fato os contornos de concretude: o objeto da proposição assimilado como verdade se faz sentir como verdadeiro para a pessoa que crê.

E assim será até que (e se) novos inputs no cérebro puderem produzir outputs tais que o dado seja reavaliado e re-arquivado sob o rótulo mental de valor de incerteza ou, dependendo da intensidade dos novosinputs, passar mesmo para a categoria classificatória de dado falso, em nosso “arquivo” mental de conceitos e proposições assimilados.

Diante do recente reconhecimento de uma tal estrutura e funcionamento cerebrais, levantam-se algumas importantes indagações. Uma, que me interessa discutir aqui, é a que muito se faz em meios criacionistas, de que aceitar a Teoria da Evolução constituiria uma crença semelhante à de se aceitar como verdadeiro o relato bíblico da criação que encontramos nas linhas iniciais do Gênesis.

Neste sentido, é importante destacar que a validade científica não resulta da (inviável) capacidade dos cientistas de anularem suas crenças pessoais. Definitivamente, não! Cientistas são pessoas, e como tais estão sujeitos a desenvolverem suas próprias crenças, e não necessariamente demonstram-se seres capazes de anular suas crenças em face do conhecimento científico.

Mas a validade científica não precisa resultar de uma situação ideal assim (em que cientistas anulam suas crenças pessoais). Não precisa e não o faz! Ela é resultante da postura do cientista de esforçar-se a fim de dar maior valor a princípios da razão que de modo confiável possa vincular suas crenças à realidade, através de uma cadeia válida de evidências e argumentos. Quando isso não ocorre, não é o peso das crenças que prevalecem, mas sim os das evidências, como requer o princípio da razão, que não deve ignorar o que é factual com base no que se crê de uma maneira meramente pessoal.

A pergunta “Em que devo acreditar, e por que devo acreditar nisso?” não poucas vezes é feita e respondida no meio científico. E a resposta razoável é: acredite numa proposição porque ela encontra-se bem sustentada por teoria e evidências; acredite nela porque já foi experimentalmente verificada; acredite nela porque toda uma geração de homens intelectualmente capazes já tentaram refutá-la e falharam; enfim, acredite porque ela é verdadeira (ou pelo menos é isso que o peso dos indícios parecem indicar). Esta é uma norma da cognição bem como é o núcleo epistêmico de qualquer proposição científica.

Ao longo dos últimos 150 anos, a TE vem passando com louvor em todos esses testes de validade. A cada avanço da ciência, sobretudo das várias ciências que hoje promovem a consilência (o “saltar junto” cooperativo), confrontando os resultados de suas pesquisas — em Biologia, Neurociências, Ciência Cognitiva, Psicologia, Antropologia, etc. Em todas essas áreas, as descobertas vão explicando cada vez mais os mecanismos da evolução, vão tornando menores as lacunas, vão corroborando, pesquisa após pesquisa, como essa teoria brilhante explica o desenvolvimento da vida até aqui, por meio da seleção natural, desde que surgiu no planeta, há bilhões de anos.

Portanto, dizer que os evolucionistas acreditam na TE é sim uma verdade. Mas dizer que o fazem tal como os criacionistas acreditam na criação bíblica é uma enorme distorção do que o verbo acreditar significa em cada caso. O acreditar científico não é o acreditar dos teístas numa divindade criadora.


Bem... O tema está aberto para a discussão!

OBS.: Estarei ausente durante todo este dia em virtude de meu trabalho, mas retorno à noite para rever as postagens, e replicar algo, se for o caso.

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