sábado, 11 de julho de 2009

Desmistificando Darwin: Thomas Malthus

Membro: IBA MENDES
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Normalmente quando se fala em Charles Darwin, tem-se em mente a figura de um ilustre cientista inglês que revolucionou o pensamento biológico no fim do século XIX, o qual juntou-se ao navio de pesquisa Beagle, como naturalista e geólogo, para uma longa viagem ao redor do mundo, da qual coletou inúmeras informações que o levou a escrever a obra a que serviu como base à Teoria da Evolução. Este é o Darwin “oficial”, o autor de “A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural”.

Neste tópico, porém, vou discorrer acerca de um outro Darwin. Um Charles Darwin desprovido de sua solenidade que a muitos causa tanto encantamento. E, ninguém melhor do que um célebre darwinista, para de início, lançar por terra o “mito do Beagle”:

“O mito do Beagle - o de que Darwin tornou-se um evolucionista por meio da observação simples e imparcial de um mundo inteiro estendido à sua frente durante uma viagem de cinco anos ao redor do mundo — ajusta-se a todos os nossos critérios românticos para a melhor das lendas: um jovem, livre dos empecilhos da sociedade inglesa e dos seus pressupostos limitadores, face a face com a natureza, exercitando a sua mente formidável e inexperiente com todos os desafios oferecidos por plantas, animais e rochas do globo todo. Ele parte da Inglaterra em 1831, com planos de se tornar um pároco de aldeia ao voltar. Retorna em 1836, tendo visto a evolução em estado bruto, compreendendo (embora vagamente) as suas implicações e comprometido com uma vida científica de pensador evolucionista. O catalisador principal: as ilhas Galápagos. Os atores principais: tartarugas, tordos-dos-remédios e, acima de tudo, treze espécies de tentilhões de Darwin — o melhor laboratório evolutivo que a natureza nos ofereceu.

[...]

[...]

Resumindo, então, Darwin chegou às Galápagos e delas saiu como criacionista, e o seu estilo de coleta durante toda a visita refletiu essa posição teórica. Vários meses depois, compilando as anotações em alto-mar, durante as longas horas da travessia do Pacífico, ele flertou brevemente com a evolução enquanto pensava nas tartarugas e nos tordos, não nos tentilhões. Mas ele rejeitou essa heresia e atracou na Inglaterra em 2 de outubro de 1836 na condição de criacionista que nutria dúvidas nascentes”.

Fonte:
Stephen Jay Gould. “O Sorriso do Flamingo”. Editora Martin Fontes. 1ª edição, 1990. Tradução: Luís Carlos Borges. paginas: 323 e 330


Esclarecimento feito, prossigamos...

Dentre os cinco “conceitos essenciais de Darwin”, três deles são de autoria do economista inglês Thomas Malthus, a saber:

1 – As populações podem crescer exponencialmente, isto é, numa progressão geométrica do tipo: 2, 4, 8, 16, 32, 64 e assim por diante. Resumindo: se todos os descendente de um casal de lobos sobrevivessem e se reproduzissem no mesmo ritmo, em poucos anos a terra estaria coberta deles.

2 – As populações não crescem exponencialmente e, aparentemente, a terra não está coberta de lobos.

3 – Por causa do grande número de descendentes e da ausência de espaço e alimento para todos, faz-se mister que exista uma “luta pela existência” (ou seja: uma competição), já que o número de indivíduos deve ser eliminado a cada geração.

Bem. É de conhecimento de todos que o grande “insight" de Darwin veio da leitura de “Essay on Population” (“Ensaio sobre a população”), publicado em 1798 pelo economista inglês Thomas Malthus. Em ”A Vida de um Evolucionista Atormentado: Darwin”, os darwinistas Adrian Desmond & James Moore relatam como isso se deu:

“O homem condenado continuou a ler, ainda interessado em estatísticas humanas. No final do mês, ele pegou a sexta edição do Ensaio sobre o Princípio da População de Malthus — a polêmica descrição da humanidade que ultrapassava seu suprimento de alimento e dos fracos e imprevidentes que sucumbiam na luta pelos recursos disponíveis, Malthus raramente fora mais atual”.

Fonte:
A Vida de um Evolucionista Atormentado: Darwin. Adrian Desmond & James Moore – Geração Editorial. São Paulo, 1995, p. 282-285.


Um outro darwinista, Nélio Bizzo, também confirma este evento:

“No entanto, todas essas observações não eram suficientes para comprovar a ocorrência da evolução. Era necessário encontrar um mecanismo que explicasse como essas modificações ocorrem. Isso era essencial para questionar a idéia, predominante até aquela época, de que as espécies eram imutáveis.”

Foi em 1838 que encontrou a chave do intricado problema, lendo o livro do economista inglês Thomas Malthus sobre populações.”

Fonte:
Nélio Marco - “O que é Darwinismo” – Editora Brasiliense, 1989. p 13.

Agora vejamos isto do próprio punho de Darwin, em “A Origem das Espécies”:

“PROGRESSÃO GEOMÊTRICA DO AUMENTO DOS INDIVÍDUOS

A luta pela existência resulta inevitavelmente da rapidez com que todos os seres organizados tendem a multiplicar-se. Todo o indivíduo que, durante o termo natural da vida, produz muitos ovos ou muitas sementes, deve ser destruído em qualquer período da sua existência, ou durante uma estação qualquer, porque, de outro modo, dando-se o princípio do aumento geométrico, o número dos seus descendentes tornar-se-ia tão considerável, que nenhum país os poderia alimentar.

Também, como nascem mais indivíduos que os que podem viver, deve existir, em cada caso, luta pela existência, quer com outro indivíduo da mesma espécie, quer com indivíduos de espécies diferentes, quer com as condições físicas da vida.

É a doutrina de Malthus aplicada com a mais considerável intensidade a todo o reino animal e vegetal, porque não há nem produção artificial de alimentação, nem restrição ao casamento pela prudência. Posto que algumas espécies se multiplicam hoje mais ou menos rapidamente, não pode ser o mesmo para todas, porque a terra não as poderia comportar.

Não há exceção nenhuma à regra que se todo o ser organizado se multiplicasse naturalmente com tanta rapidez, e não fosse destruído, a terra em breve seria coberta pela descendência de um só par. O próprio homem, que se produz tão lentamente, veria o seu número dobrado todos os vinte e cinco anos, e, nesta proporção, em menos de mil anos, não haveria espaço suficiente no Globo onde
pudesse conservar-se de pé. Lineu calculou que, se uma planta anual produz somente duas sementes - e não há planta que tão pouco produza - e no ano seguinte cada uma destas sementes desse novas plantas que produzissem outras duas sementes, e assim seguidamente, chegar-se-ia em vinte anos a um milhão de plantas”.

Fonte:
Charles Darwin. “A Origem das Espécies”, p. 78, 79.

Lembrando que o argumento de Malthus veio sessenta anos antes de o “A Origem das Espécies”.

E, para finalizar, faço menção de uma frase escrita por Macbeth, em “Recuperando Darwin” , é claro, sem nenhuma intenção em ofender os admiradores do naturalista inglês:

“Darwin era um amador. Não ensinou numa universidade nem trabalhou em laboratório”.

É isso!

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