Membro: IBA MENDES
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Já li muitas definições para o evolucionismo: teoria, filosofia, ideologia, dogma e até seita ou religião. Todavia, a mais exótica que encontrei vem de um filósofo de enorme prestígio no âmbito científico. Trata-se de Karl Raimund Popper, muito conhecido pela sua defesa da falseabilidade como um critério da demarcação entre a ciência e a não-ciência.
Em sua “Autobiografia Intelectual”, Popper denomina o darwinismo como “programa metafísico de pesquisa” (a definição dos dicionários para “metafísico” é: transcendente, difícil de compreender, nebuloso, sutil). O item em que ele trata do assunto tem como título: O darwinismo como programa metafísico de pesquisa. Ele explica:
“É metafísico por não ser suscetível de prova” (p. 180). Ele faz a seguinte análise:
“Com efeito, admitamos que em Marte haja uma vida que consista em exatamente três espécies de bactérias com equipamento genético semelhante ao de três espécies terrestres. Estaria refutado o darwinismo? De modo algum. Diremos que essas três espécies, dentre as muitas formas de mutação, eram as únicas suficientemente bem ajustadas para sobreviver. E asseveraríamos o mesmo, se houvesse apenas uma espécie (ou nenhuma). Desse modo, ocorre que o darwinismo realmente não prevê a evolução da variedade. E, portanto, não pode explicá-la. Quando muito, pode prever a evolução da variedade “sob condições favoráveis”. Entretanto, dificilmente se poderá descrever, em termos gerais, o que sejam condições favoráveis — só se poderá dizer que, estando elas presentes, surgirão formas várias”.
E, abordando exatamente esta questão, José Osvaldo de Meira Penna, em seu recente livro “Polemos,faz as seguintes reflexões:
“A euforia darwinista, que reinou até a Primeira Guerra Mundial, passou a declinar a partir de julgamentos mais críticos e é nesse ponto que entra em cena Popper. Num capítulo de seu livro “Inquérito inacabado”, sir Karl Popper (+ 1994) põe em dúvida o darwinismo na base do condicionamento científico daquilo que é testável, daquilo que pode ser provado empiricamente, daquilo que é suscetível de comprovação pela observação e pela experiência.
Segundo esse critério, o darwinismo não é uma teoria científica. Popper qualifica-o de “programa de pesquisa metafísica”. Confessando que, durante muito tempo, sentia relutância em admitir sua legitimidade científica, escreve sir Karl em sua Autobiografia: “Cheguei à conclusão que o darwinismo não é uma teoria científica testável, mas um programa metafísico de pesquisa — uma estrutura possível para teorias científicas suscetíveis de serem submetidas a teste”. Em suma: não é a teoria da evolução em si, a qual possui um tamanho poder de explicação e oferece tantas soluções para problemas de paleontologia, embriologia, anatomia, zoologia, geologia, botânica, etc., que dificilmente pode hoje ser contraditada. É o mecanismo darwiniano da “seleção natural” que se torna passível de julgamento porque arredio a toda prova empírica.
(...)
“Acentua Popper, corretamente, que o determinismo é muito pobre como explicação quando verificamos a enorme riqueza do repertório possível de reações de um organismo perante os problemas e desafios que enfrenta. “Creio que o darwinismo” — escreve Popper — “deve amplamente ceder lugar à idéia de que, em quase todos os estágios da vida, existe um repertório inteiro de reações concebíveis perante uma determinada situação”. Popper compara o efeito do darwinismo nas mentes do século XIX ao que o marxismo e o freudismo causaram no século XX, “o efeito de uma conversão ou revelação intelectual, abrindo os olhos a uma nova verdade, escondida dos ainda não iniciados”.
(...)
“As teorias científicas são científicas na medida exata em que suas conseqüências podem ser falsificadas pela observação ou pela experimentação. Um cientista digno do nome é aquele que está pronto a abandonar sua mais querida teoria quando fica vulnerável à falsificação ou à refutação. Os mitos e as teorias pseudocientíficas não são susceptíveis de refutação desse tipo. Certo: em sua autobiografia, Darwin sustentou haver sempre se empenhado em manter sua mente livre, de maneira a abandonar qualquer hipótese, por mais afeiçoado que dela fosse (e não podia resistir em formar uma hipótese sobre qualquer assunto), tão pronto os fatos demonstrarem a ela estarem opostos.
Darwin era um homem honesto. Era um cientista sob muitos aspectos admirável em sua humildade, em sua capacidade de aceitar a concorrência de outras idéias e em sua modéstia no reconhecimento do mérito de rivais, como no caso de Wallace. Não obstante, temos que reconhecer que sempre se recusou a aceitar qualquer hipótese que contrariasse a teoria da seleção natural — a própria pedra angular de todo o edifício da evolução por ele magnificamente construído. A visão errônea da ciência, afirma Popper, atraiçoa-se no ímpeto de estar sempre certo, sempre com razão e com prova indiscutível.
(...)
“Disso concluímos que o darwinismo encontra dificuldade precisamente nesse terreno de sua “intestabilidade” e “irrefutabilidade”.
* Fonte:
José Osvaldo de Meira Penna. “Polemos: uma análise crítica do darwinismo. Editora UnB (da Universidade de Brasília). Brasília, 2006.
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Da minha parte, basicamente pela infinidade de especulação que o evolucionismo vem apresentando ao longo de sua história, sem no entanto apontar sequer um único exemplo que seja inequívoca e empiricamente comprovado, só é possível encaixá-lo no âmbito da filosofia. De resto, há poucos traços de ciência e muita metafísica.
É isso!
O debate segue neste link do Orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=26796515&tid=2553400103118520042
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