domingo, 12 de julho de 2009

Deus e o sofrimento humano

Membro: IBA MENDES
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“Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!”

Castro Alves – trecho de “Navio Negreiro”

Dos motivos que levam alguém a abandonar à crença em Deus, sobressai o problema do sofrimento humano. Afinal, podem ponderar os céticos:

- Por que Deus não faz jorrar leite e mel de poços na Etiópia, Serra Leoa, Moçambique e Angola?

- Por que Deus permite que uma criança de dois anos seja vítima de uma terrível doença como o câncer?

- Por que Deus consente que pessoas más prosperem enquanto pessoas bondosas muitas vezes padeçam necessidade e humilhação?

- Por que Deus aceita que um inocente tenha a cabeça decapitada ao passo que o culpado às vezes tenha à sua coroada de louros e aplausos?

- Por que Deus tolera catástrofes naturais, tais como terremoto, erupção vulcânica, tornado, tsunami etc.?

- Por que Deus não acaba definitivamente com a miséria, a fome, a pobreza e todos os males existentes no mundo?

- Por que Deus não elimina de uma vez por toda a injustiça, a opressão e a pobreza da face da terra?

- Por que Deus não faz do deserto um oásis, e do mundo um fértil paraíso tropical?

- Onde estava Deus quando veio a dor, fazendo desfalecer o meu peito numa profunda e abissal angústia?

- Onde estava Deus quando os negros africanos, presos e acorrentados como bichos eram trazidos para serem vendidos nas feiras e mercados como se fossem animais sem alma e coração?

- Onde estava Deus quando Hitler covardemente mandou para câmaras de gás milhões de pessoas inocentes?

- Onde estava Deus quando Josef Stalin mandou assassinar cerca de 20 milhões de russos, muitos dos quais seus próprios “camaradas”?

- Onde estava Deus quando Mao Tsé-tung mandou eliminar mais de 50 milhões de pessoas que não se enquadravam no seu regime ditatorial?

- Onde estava Deus quando o regime cubano mandou matar mais de 15 mil pessoas que não afinavam com as regras do poder?

- Onde estava Deus quando o general Pol Pot mandou aniquilar um terço da população do Camboja?

- Onde estava Deus quando os Estados Unidos e aliados invadiram o Afeganistão e, com canhões de 10 mil dólares destruíam reles casinhas de apenas alguns míseros dólares, matando crianças inocentes?

- Afinal, Ele não é Todo-Poderoso? Não é o Deus de bondade e amor?

Penso que, do ponto de vista teológico, poucas questões são tão complexas e delicadas como esta relacionada ao sofrimento e à dor humana. Como, afinal, conciliar à realidade da dor com a crença num Deus poderoso e amoroso?

Bom. Não sei qual exatamente seria a resposta mais aceitável teologicamente. Será que por meio da dor Deus estaria tentando dizer-nos algo?

Falando como um teísta, eu sinceramente não acredito nesta história, mesmo sendo ela uma unanimidade em alguma vertente teológica!

Por que não aceitamos a realidade de que vivemos num mundo no qual todos, sem exceção, estão sujeitos ao prazer ou ao sofrimento, ao amor ou ao ódio, à crença ou à descrença? Por que atribuir a Deus (ou ao diabo) as conseqüências das nossas próprias ações? Por que não aceitamos, afinal, o fato de que vivemos num universo de leis fixas para todos?

E, para finalizar, faço menção das palavras de C. S. Lewis, do seu livro “O Problema da Dor”:

“Não é um pai que queremos no céu, mas um avô, cujo plano para o universo tivesse sido tal, que se pudesse dizer ao fim de cada dia: — Todos tiveram um dia maravilhoso.

"Eu gostaria muito de viver num universo regido por essas leis, mas, já que isso não acontece, e eu tenho motivos para crer que Deus é amor, concluo que o meu conceito de amor precisa ser corrigido . . .

"O problema de reconciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus amoroso somente é insolúvel enquanto damos um significado trivial à palavra "amor", e limitamos a sabedoria de Deus pelo que nos parece ser sensato.

"Desenhando para apenas divertir uma criança, um artista pode deixar de se ater à perfeição; não exigirá de si mesmo perfeição absoluta. Mas, ao fazer um quadro, que pode ser o melhor da sua vida — obra na qual ele põe todo o seu amor, embora de um modo diferente, mas tão intenso quanto o amor de um homem por uma mulher, ou da mãe pelo filho — ele não medirá esforços para fazê-lo perfeito, mesmo que isso fosse sentido pelo quadro, se este fosse um ser vivente.

Pode-se imaginar um quadro que pudesse sentir todas as vezes que a pintura fosse apagada, raspada e recomeçada pela décima vez; provavelmente, o quadro desejaria que fosse apenas um leve esboço e que terminasse num minuto. Do mesmo modo, é natural que desejemos que Deus tivesse planejado para nós um destino menos glorioso e menos árduo; mas, então, estaríamos desejando menos e não mais.”

É isso!

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