Membro: IBA MENDES
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Terminei há alguns instantes a leitura de “Cândido”, do genial François-Marie Arouet, ou simplesmente Voltaire. Dentre as muitas personagens do romance, destaca-se o Doutor Pangloss, uma bizarra figura que me fez lembrar a versão “bizarra” do darwinismo, também denominada ultradarwinismo. Tal qual o Doutor Pangloss, os ultradarwinistas são exímios na capacidade de criar estórias aparentemente plausíveis mas não fundamentadas na realidade. Mas, vamos ao “Cândido”:_________
” Está demonstrado, dizia ele, que as coisas não podem ser de outra maneira: pois, como tudo foi feito para um fim, tudo está necessariamente destinado ao melhor fim. Queiram notar que os narizes foram feitos para usar óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para as calças, e por isso temos calças. As pedras foram feitas para serem talhadas e edificar castelos, e por isso Monsenhor tem um lindo castelo; o mais considerável barão da província deve ser o mais bem alojado; e, como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porco o ano inteiro: por conseguinte, aqueles que asseveravam que tudo está bem disseram uma tolice; deviam era dizer que tudo está o melhor possível”.
No mundo do Doutor Pangloss nada acontecia sem que tivesse um fim determinado. Para esta personagem voltaireana não havia efeito sem causa, e este mundo era o melhor possível dos mundos: ”o castelo do senhor barão era o mais belo possível dos castelos e a senhora a melhor das baronesas possíveis” .
Suas conclusões normalmente estão baseadas em inferências acerca “daquilo que poderiam ter sido”. No caso do chimpanzé, por exemplo, não obstante façam uso da “justificativa genética”, a proximidade entre este animal e o homem norteia-se preponderantemente pela “semelhança” morfológica entre ambos: “O homem parece como o macaco, logo o homem tem uma relação evolutiva com ele”. Coincidentemente, há uma passagem hilária em “Cândido”, na qual se narra que as mulheres mantinham um relacionamento conjugal com os macacos.
”Ia continuar, mas o espanto lhe paralisou a língua ao ver aquelas duas raparigas beijarem ternamente os dois macacos, desatando em pranto sobre os seus corpos e enchendo o ar com os gritos mais pungentes.
— Eu não esperava tanta bondade de alma – disse afinal a Cacambo, o qual replicou:
— Bela coisa fez o patrão! Acaba de matar os amantes dessas moças.
— Seus amantes! Será possível? Estás zombando de mim, Cacambo. Como vou acreditar numa coisa dessas?
— O senhor, meu caro patrão, anda sempre a espantar-se de tudo; por que acha tão estranho que nalguns países haja macacos que obtém favores femininos? Eles têm um quarto de homens, como eu tenho um quarto de espanhol.
— Ah! – disse Cândido, – lembro-me de ter ouvido a Pangloss que outrora aconteciam tais acidentes, e que tal mescla produzira egipãs, faunos, sátiros; que várias personagens da antigüidade os haviam visto; mas eu tomava tudo isso por fábulas” ((rs)).
”Ia continuar, mas o espanto lhe paralisou a língua ao ver aquelas duas raparigas beijarem ternamente os dois macacos, desatando em pranto sobre os seus corpos e enchendo o ar com os gritos mais pungentes.
— Eu não esperava tanta bondade de alma – disse afinal a Cacambo, o qual replicou:
— Bela coisa fez o patrão! Acaba de matar os amantes dessas moças.
— Seus amantes! Será possível? Estás zombando de mim, Cacambo. Como vou acreditar numa coisa dessas?
— O senhor, meu caro patrão, anda sempre a espantar-se de tudo; por que acha tão estranho que nalguns países haja macacos que obtém favores femininos? Eles têm um quarto de homens, como eu tenho um quarto de espanhol.
— Ah! – disse Cândido, – lembro-me de ter ouvido a Pangloss que outrora aconteciam tais acidentes, e que tal mescla produzira egipãs, faunos, sátiros; que várias personagens da antigüidade os haviam visto; mas eu tomava tudo isso por fábulas” ((rs)).
Além disso, proliferam as conclusões fundamentadas em lacunas. Por exemplo, no caso do registro fóssil, justificam as ausências pelo fato de ser ele imperfeito, uma vez que, quando um animal morre, há uma possibilidade muito reduzida de ele vir a ser fossilizado, o que explicaria as lacunas nas genealogias fósseis.
Outra característica do panglossianismo darwinista, e esta ainda mais irônica, refere-se ao fato de acreditar que a teoria da evolução tenha alguma utilidade prática para a humanidade. O que me remete novamente ao “Cândido”, a uma passagem em que outra personagem, Pococurante, um nobre veneziano, desdenha da teoria científica livresca:
— Ah! – exclamou Martinho. – Eis aqui oitenta volumes dos anais de uma academia de ciências; deve haver nisso tudo alguma coisa de bom.
— Haveria – disse Pococurante – se um só dos autores dessa moxinifada tivesse inventado ao menos a arte de fabricar alfinetes; mas em todos esses volumes não há mais que inócuos sistemas e nenhuma coisa útil” . ((rs))
Não há dúvidas que se pode discutir muitos aspectos do darwinismo pelo viés científico, todavia, seu fundamento, ainda que à ojeriza de seus adeptos, fundamenta-se essencialmente pelo ponto de vista filosófico. As inúmeras extrapolações feita a partir da realidade vivenciada, tem sua origem no materialismo e na profunda vontade de que as coisas tivessem sido daquele jeito, o que novamente remete à filosofia. “Mas a ciência é materialista” diriam ao modo peculiar do Doutor Pangloss, confundindo a comum praticidade da ciência com a abstração materialista e ideológica.
É isso!
Outra característica do panglossianismo darwinista, e esta ainda mais irônica, refere-se ao fato de acreditar que a teoria da evolução tenha alguma utilidade prática para a humanidade. O que me remete novamente ao “Cândido”, a uma passagem em que outra personagem, Pococurante, um nobre veneziano, desdenha da teoria científica livresca:
— Ah! – exclamou Martinho. – Eis aqui oitenta volumes dos anais de uma academia de ciências; deve haver nisso tudo alguma coisa de bom.
— Haveria – disse Pococurante – se um só dos autores dessa moxinifada tivesse inventado ao menos a arte de fabricar alfinetes; mas em todos esses volumes não há mais que inócuos sistemas e nenhuma coisa útil” . ((rs))
Não há dúvidas que se pode discutir muitos aspectos do darwinismo pelo viés científico, todavia, seu fundamento, ainda que à ojeriza de seus adeptos, fundamenta-se essencialmente pelo ponto de vista filosófico. As inúmeras extrapolações feita a partir da realidade vivenciada, tem sua origem no materialismo e na profunda vontade de que as coisas tivessem sido daquele jeito, o que novamente remete à filosofia. “Mas a ciência é materialista” diriam ao modo peculiar do Doutor Pangloss, confundindo a comum praticidade da ciência com a abstração materialista e ideológica.
É isso!
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