sábado, 11 de julho de 2009

A Origem da Vida e um Experimento Esquecido

Membro: CAMILO
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Experimento Esquecido Pode Talvez Explicar a Origem da Vida


Depois de re-analisarem os resultados de uma pesquisa não-publicada conduzida por Stanley Miller em 1953, químicos perceberam que seu experimento na verdade havia produzido uma fartura de aminoácidos — a base protéica da vida.

Miller ficou famoso pelos resultados dos experimentos sobre a formação de aminoácidos numa jarra enchida com metano, hidrogênio e amônia — sua versão da sopa primordial. No entanto, suas estimativas acerca da composição atmosférica foram mais tarde consideradas imprecisas. E o experimento passou a ser considerado como um exemplo genérico (em vez de um exemplo profícuo) de como as primeiras moléculas orgânicas poderiam ter se agregado.

Porém, os resultados mais recentes, provenientes de amostras encontradas numa velha caixa por um dos ex-alunos de Miller, vêm de um dispositivo que imitava condições vulcânicas que, ao contrário das estimativas da composição atmosférica da Terra primitiva aventadas por Miller, hoje se acredita terem de fato existido três bilhões de anos atrás.

Os achados sugerem que aminoácidos podem ter se formado quando relâmpagos atingiram reservatórios de gases nos flancos de vulcões, e constituem uma coda bem apropriada para a sinfonia biográfica do falecido pai da química pré-biótica.

“O que é surpreendente é que foi ele quem fez isso”, disse o co-autor do estudo, Jeffrey Bada, bioquímico do Scripps Institute of Oceanography e ex-aluno de Miller. “Tudo o que eu fiz foi ter acesso aos extratos dele.”

Bada encontrou o experimento original por puro acidente, depois que um colega de Miller mencionou ter visto uma caixa de amostras experimentais no escritório de Miller. Bada, que herdou o espólio científico de Miller após sua morte em 2007, achou em seu próprio escritório a caixa em questão — literalmente rotulada com a inscrição“Experimentos de 1953-1954”.

Dentro dela, havia amostras retiradas por Miller de um dispositivo que cuspia uma corrente concentrada de gases primordiais sobre faíscas elétricas.

À época do experimento, Miller não tinha acesso à cromatografia de líquidos de alta-performance, que permite que os químicos analisem e classifiquem amostras com níveis de precisão antes jamais imaginados. E quando a equipe de Bada re-analisou as amostras desconsideradas, encontraram nada menos do que 22 aminoácidos, vários dos quais nunca foram vistos por Miller em toda uma vida de desenvolvimento de modelos de condições primordiais.

Talvez os primeiros aminoácidos tenham se formado quando os tipos de gases que encontramos no aparelho de Miller se acumularam ao redor de vulcões ativos na Terra primitiva, disse Bada. “Em vez de ter havido sínteses de moléculas orgânicas por toda parte, teria havido uma porção de pequenas fábricas localizadas na forma destas ilhas vulcânicas”, explicou.

“Os precursores dos aminoácidos se formaram numa coluna de fumaça e se concentraram ao logo de diversas praias. (Imagem: http://blog.wired.com/.shared/image.html?/photos/uncategorized/2008/10/16/volcano3.jpg ) Acomodaram-se na água, sofreram outras reações ali, e enquanto eram levados pelas marés ao longo da praia, tornaram-se concetrados e passaram por novos eventos de polimerização”, disse o bioquímico, Adam Jorhson, da Universidade de Indiana, um outro autor do estudo. “E raios” — o catalisador final da equação — “tendem a ser extremamente comuns quando há erupções vulcânicas”. (Imagem: http://blog.wired.com/.shared/image.html?/photos/uncategorized/2008/10/16/volcano2_2.jpg )

Luke Leman, um bioquímico do Scripps Institute que não participou do estudo, publicado hoje no periódico científico Science, concorda: “Estes achados somam-se a um corpo crescente de literatura que sugere que áreas próximas a vulcões possam ter sido áreas de intensa atividade da química orgânica na Terra primitiva.” E disse ainda: “Estas descobertas provavelmente inspirarão uma próxima geração de químicos pré-bióticos, tal como os resultados do experimento original de Miller inspiraram por mais de 50 anos.”

Bada acrescentou: “Há uma lição aqui: nunca jogue nada fora!”

Após a publicação do artigo na Science, o químico pré-biótico da Universidade de Harvard, Jack Szostak, comentou:“Gosto muito deste trabalho, pois ele mostra que temos de pensar em ambientes locais onde classes específicas de moléculas possam ser produzidas. Uma boa quantidade de coisas podem ser produzidas perto (não dentro) de vulcões, outras coisas em outros ambientes. Pelo menos isto ajuda a se afastar da velha e tola idéia de que a vida começou numa sopa primordial oceânica (homogênea demais e diluída demais para que qualquer coisa interessante aconteça).”

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Traduzido e adaptado de: http://blog.wired.com/wiredscience/2008/10/forgotten-exper.html?npu=1&mbid=yhp

Artigo na Science: http://www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/322/5900/404

Science, 17 de outubro de 2008: Vol. 322. nº. 5900.
DOI: 10.1126/science.1161527

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