domingo, 12 de julho de 2009

“Tenho que viver, mas... pra quê?"

Membro: IBA MENDES
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O célebre escritor russo Lev Tolstoi, autor da obra-prima “Guerra e Paz”, manifestou sua angústia existencial, com a seguinte indagação: “TENHO QUE VIVER, MAS... PRA QUÊ?

“A vida para mim é vontade de morrer”, escreveu Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas da América Latina.

Para o filósofo e escritor francês, Jean Paul-Sartre, o principal proponente do existencialismo nos anos pós-guerra:“a vida é um pânico num teatro em fogo”.

O romancista e crítico inglês, Edward Forster, disse que “a maior parte da vida é tão enfadonha que não há nada a dizer sobre ela”.

Uma personagem de Shakespeare exprimiu-se assim: “A vida é tão cansativa como uma história contada duas vezes”.

No seu satírico Elogio da Loucura, Erasmo de Rotterdam, discorrendo sobre a vida, também diz: Porventura, é outra coisa senão uma peça de teatro em que cada um, sob sua máscara, vive seu personagem até que o diretor o tira da cena?”

O poeta Álvares de Azevedo, imbuído de um forte pessimismo, escreveu: “A vida está na garrafa do conhaque, na fuma de um charuto, tirai isto e a vida o que resta?”.

No Talmude, compilação das interpretações da lei oral judaica, consta que “a vida do homem é como a sombra de um pássaro que nos sobrevoa”.

O apóstolo Tiago, tratando da fragilidade da vida, diz: “Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece".

Filósofos, teólogos, biólogos, físicos, químicos e estudiosos de um modo geral, divergem muito em seus conceitos sobre qual o verdadeiro sentido da vida. O filósofo inglês Herber Sencer, afirmou que “a vida é a adaptação contínua de relações internas e relações externas”. Para R. Beutner, “a vida não passa de uma das muitas propriedades do carbono”. Nas palavras de G.G. Simpson, “a vida é um processo ou uma série de processos associados à completa organização da matéria, ou que nela se desenvolvem”.

Carlos Drummond de Andrade, no seu famoso poema José, de algum modo sintetiza a aflição humana ante o cenário de perplexidade em que o homem, como diria o mais influente filósofo britânico do século XX, Bertrand Russel: “é apenas o resultado da disposição acidental de átomos”...

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua inocência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar;
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se esconder,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

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