domingo, 12 de julho de 2009

Karl Popper e o darwinismo

Membro: IBA MENDES
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O filósofo da ciência Karl Raimund Popper, muito conhecido pela sua defesa da falseabilidade como um critério da demarcação entre a ciência e a não-ciência, tratando especificamente do darwinismo, o denominou de “programa metafísico de pesquisa”“É metafísico por não ser suscetível de prova”, escreve ele em sua “Autobiografia Intelectual” (p. 180).

Popper iguala as conseqüências do darwinismo na mentalidade do século XIX ao que o freudismo e marxismo originaram no século XX, ou seja, teorias que pretendem explicar tudo mas que nada explicam.

Em sua “Autobiografia Intelectual” ele trata do assunto largamente. No item: “O darwinismo como programa metafísico de pesquisa” faz as seguintes ponderações sobre o assunto:

“Com efeito, admitamos que em Marte haja uma vida que consista em exatamente três espécies de bactérias com equipamento genético semelhante ao de três espécies terrestres. Estaria refutado o darwinismo? De modo algum. Diremos que essas três espécies, dentre as muitas formas de mutação, eram as únicas suficientemente bem ajustadas para sobreviver.

E asseveraríamos o mesmo, se houvesse apenas uma espécie (ou nenhuma). Desse modo, ocorre que o darwinismo realmente não prevê a evolução da variedade. E, portanto, não pode explicá-la. Quando muito, pode prever a evolução da variedade “sob condições favoráveis. Entretanto, dificilmente se poderá descrever, em termos gerais, o que sejam condições favoráveis — só se poderá dizer que, estando elas presentes, surgirão formas várias”.

Entendo, todavia, que focalizei a teoria por seu melhor aspecto — quase pelo aspecto em que ela e mais suscetível de prova. Poder-se-ia dizer que ela “quase prevê” uma grande variedade de formas de vida. Em outros campos seu poder preditivo ou explicativo é ainda mais desapontador.

“Concentremo-nos na “adaptação”. À primeira vista, a seleção natural parece explicá-la e, em certo sentido isso realmente ocorre; mas não de maneira que se possa considerar científica. Dizer que uma espécie hoje viva está adaptada a seu meio é, em verdade, quase tautológico.

Com efeito, empregamos os termos “adaptação” e “seleção” de modo tal que se torna cabível afirmar que, se a espécie não se houvesse adaptado, ela teria sido eliminada por seleção natural. De outra parte, se uma espécie foi eliminada, isso deverá ter ocorrido pelo fato de ela se adaptar mal às condições.

A adaptação (ou aptidão) é definida pelos modernos evolucionistas como um valor de sobrevivência, e pode ser medida em ter de êxito efetivo quanto à sobrevivência: dificilmente haveria possibilidade de submeter a prova uma teoria tão frágil quanto essa” (p. 181).

Fonte:
Karl Popper. “Autobiografia Intelectual”. Tradução: Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Motta. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1977.

É bom frisar, no entanto, que a crítica de Popper ao darwinismo não visava beneficiar nenhuma outra teoria ou idéia (o Criacionismo, por exemplo), mas apenas demonstrar a fragilidade da teoria da evolução como a única teoria verdadeiramente científica. Popper defendia a tese democrática de várias teorias.

Mas, vamos aos exemplos de como a teoria darwinista não passa no critério de falseabilidade...

Darwin ao determinar a seleção natural fez uso da definição ”a preservação das variedades favoráveis e a destruição das desfavoráveis”. Porém, quem de fato seriam os “favoráveis” e os “desfavoráveis?”

Bom. Alguém poderia simploriamente afirmar que os “favoráveis” são os que sobrevivem, e os “desfavoráveis” são os que não deixa sobreviver! Ou seja, em última análise, a seleção natural não significa a sobrevivência do “mais apto”, e sim a sobrevivência daquele que sobrevive, o que é apenas um raciocínio circular que não explica cousa alguma.

Outra questão diz respeito às explicações sobre a “seleção sexual”. Segundo Darwin o macho seleciona a fêmea em conseqüência de seus aspectos mais atraentes, e a fêmea, por sua vez, seleciona o macho por causa de sua força física e mental. A par disto, pergunto:

Por que os encantos das fêmeas e a força do macho são as características mais seletivas?

Qual o critério para se definir, por exemplo, qual seja a fêmea mais bela? Não seria, portanto, a beleza um conceito meramente subjetivo?

E a fêmea tem condições de saber realmente que um determinado macho é o mais saudável e o mais forte entre os demais? Não seria isso igualmente subjetivo?

Outra fragilidade da teoria darwiniana consiste em querer explicar os sistemas complexos através de causas não-inteligentes. Desta forma, como a seleção natural não consegue explicar esses elementos complexos, logo ela não pode ser falseável também neste aspecto.

Outra razão diz respeito ao fato de não poder fazer previsões de como evoluirão as espécies.

Outra dificuldade está relacionada com o fator tempo, afinal como poderia testar os supostos processos de alterações das espécies ao longo dos milhões de anos que se passaram?

Uma outra refere-se ao poder explicativo da teoria darwinista ante os fenômenos biológicos em geral. Ou seja, ela é de tal forma formada por um conjunto de enunciados tão vasto e tão intenso que não seria possível fazer uma confrontação verdadeiramente definitiva com os diversos “dados” em questão (dados decorrentes da classificação, da paleontologia, da anatomia comparada, da genética, da embriologia, da biogeografia etc.).

E outra relaciona-se com a quantificação da diversidade: quantas espécies é possível encontrar em determinadas épocas e ambientes?

A famigerada carta de Popper!
Em 1980, sob intensa pressão e sob o risco de ser isolado pela academia, Popper escreveu uma carta na qual – timidamente – atenuou suas críticas ao darwinismo. No entanto, fora apenas uma correção tímida e mal explicada.

Afinal, como Popper poderia ter mudado de idéia se nada de novo fora apresentado pelos darwinistas, de modo que o fizesse tomar tal atitude? Como ele poderia aceitar o darwinismo como científico se situação da testabilidade não havia mudado em nenhum aspecto até aquele dado momento?

É bom frisar, porém, que em 1992 (bem depois de ter escrito tal carta), em “O Fim da Ciência”, John Horgan na entrevista feita com Popper não obteve dele nenhuma argumento afirmando que o darwinismo seria a melhor teoria. Nesta entrevista Popper reafirma a necessidade de outras teorias alternativas, além da teoria da evolução.

E, para finalizar, cito aqui um trecho do livro “De Arquimedes a Einstein”, no qual Pierre Thuillier, discorrendo sobre a questão, apenas confirma uma atenuação por parte de Popper:

“Mais tarde, Popper atenuou sua posição. Mas o tipo de desconfiança que formulara não deixou, com isso, de ter um sentido preciso: não é raro que o fornecimento de “provas” experimentais se revele extremamente delicado. O próprio Darwin sabia do que estava tratando: ele não afirmava que sua teoria estivesse “comprovada”, contentando-se em dizer que ela tornava inteligível grande número de ‘fatos” (o que é muito diferente...).” (p. 12).

Aos darwinistas:

Poupem o Popper!

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