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“É a responsabilidade moral do homem que implica a impossibilidade de Deus”, escreveu, há algum tempo, o cantor e compositor baiano Caetano Veloso, num artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo. Com o título Dostoiévski, Ariano e a pernambucália, Caetano tentava refutavar um outro artigo (Dostoiévski e o mal) do escritor pernambucano Ariano Suassuna.
Em seu artigo, o autor de ”O Auto da Compadecida”, fazendo uso de uma frase da personagem Ivan Karamazov, de Dostoiévski (“Se Deus não existe, tudo é permitido”), chegou a seguinte conclusão: “Vejo que nem tudo é permitido, então Deus existe”. Para Ariano, o lema tropicalista “É proibido proibir”, usado pelo compositor baiano numa canção de 1968, fundamentava-se numa ética libertária do prazer. Segundo o raciocínio deste escritor, se alguém, imbuído de tal motivação, saísse por aí matando travestis e homossexuais, poderia , pela lógica do “É proibido proibir”, justificar seu ato como uma forma de prazer. Escreve Ariano:
”Na minha época de juventude passei, como todo mundo, por uma fase em que julguei ter me desvencilhado de Deus e dos conceitos de bem e mal. Até o dia em que, lendo Dostoiévski, encontrei uma frase de Ivan Karamazov, que dizia: "Se Deus não existe, tudo é permitido". Descobri, na mesma hora, que as normas morais ou tinham um fundamento divino, absoluto, ou não tinham qualquer validade, porque ficariam dependendo das opiniões e paixões de cada um.
Entretanto, como tudo o que o personagem dostoievskiano dizia, a frase de Ivan não continha nem uma afirmação nem uma negação: lançava somente uma dúvida; uma ambígua dúvida da qual Sartre viria a fugir, afirmando: "Deus não existe, e, portanto, tudo é permitido". Eu, porém, apesar da minha extrema juventude, tirei da frase de Ivan a conseqüência contrária: "Vejo que nem tudo é permitido; então, Deus existe". E, daí por diante, procurei ajustar minha vida e minha arte pela convicção a que chegara.
É por isso que sempre considerei irresponsáveis e mal formulados tanto o princípio amoral estabelecido por Sartre quanto o lema leviano e tolo que os tropicalistas herdaram do movimento parisiense de 68:"É proibido proibir". E certa vez, em debate realizado no Recife, indaguei, de um seguidor do lema, em que se fundamentava tal "proibição de proibir". Ele respondeu que era "numa ética libertária do prazer".
Aí, coloquei, para ele, a seguinte hipótese: "Digamos, então, que um sujeito saia por aí atirando em travestis e homossexuais, como tem acontecido. Se ele alegar que age assim por sentir prazer na prática de tal crime, deve lhe ser permitido continuar, para não ferir a norma de que é proibido proibir? Ou é melhor chegar à conclusão de que, pelo contrário, existem casos em que é permitido, e até obrigatório, proibir?"
E, como não obtive resposta satisfatória, cheguei mais uma vez à conclusão de que Hegel tinha razão ao considerar a arte, a religião e a filosofia como etapas no caminho do ser humano em direção a Deus, fundamento de qualquer norma moral que, por não depender do arbítrio individual, não se veja obrigada a considerar legítima até a realidade monstruosa do crime”.
Aí, coloquei, para ele, a seguinte hipótese: "Digamos, então, que um sujeito saia por aí atirando em travestis e homossexuais, como tem acontecido. Se ele alegar que age assim por sentir prazer na prática de tal crime, deve lhe ser permitido continuar, para não ferir a norma de que é proibido proibir? Ou é melhor chegar à conclusão de que, pelo contrário, existem casos em que é permitido, e até obrigatório, proibir?"
E, como não obtive resposta satisfatória, cheguei mais uma vez à conclusão de que Hegel tinha razão ao considerar a arte, a religião e a filosofia como etapas no caminho do ser humano em direção a Deus, fundamento de qualquer norma moral que, por não depender do arbítrio individual, não se veja obrigada a considerar legítima até a realidade monstruosa do crime”.
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Pois bem. No seu artigo, Caetano Veloso, por sua vez, sob o “amparo” do existencialista Sartre, argumentou contra a lógica de Ariano, com as seguintes palavras:
“Então Deus existe porque Ariano vê que nem tudo é permitido? Que diabo de lógica é essa? É a mesma que deixar à vontade para tomar como universal a certeza de que toda moral deduz-se da idéia de um Deus único e absoluto. Isso simplesmente é uma agressão à história e à razão. Antes do surgimento do Deus de Moisés e de Abraão, o homem já desenvolvera normas morais. E, quanto ao ato de matar homossexuais simplesmente por serem homossexuais, no Ocidente não se poderia sequer imaginar tal coisa antes que Roma adotasse o Deus único dos cristãos”.
Bom, para Caetano Veloso, o raciocínio de Ariano no que concerne à frase do escritor russo Dostoiévski ( “Se Deus não existe, tudo é permitido”), não faz sentido porque, entre outros motivos, ”antes do surgimento do Deus de Moisés e de Abraão, o homem já desenvolvera normas morais”.
Mas será Caetano sabe da existência de algum povo que cultivasse uma “moral” sem que nela contivesse valores fundamentados no “divino”, no Sobrenatural ou no transcendente? Mesmo povos como os antigos maias, que sacrificavam pessoas em seus rituais, ainda estes tinham seu próprio código moral norteado por conceitos absolutos, cuja essência transcendia o humano. Portanto, como bem o disse Ariano Suassuna:
“A meu ver existe na inteligência humana uma centelha divina que sem ela não haveria a Nona Sinfonia, nem nada. “Como conciliar a existência do mal com a existência de Deus?” é a pergunta fundamental de todas as filosofias e religiões. Mas tem uma frase de Dostoievski que diz “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Na mesma hora entendi o que ele quis dizer. A norma moral tem que ter um fundamento absoluto, senão fica dependendo da opinião de cada um de nós.”
É isso!
Pois bem. No seu artigo, Caetano Veloso, por sua vez, sob o “amparo” do existencialista Sartre, argumentou contra a lógica de Ariano, com as seguintes palavras:
“Então Deus existe porque Ariano vê que nem tudo é permitido? Que diabo de lógica é essa? É a mesma que deixar à vontade para tomar como universal a certeza de que toda moral deduz-se da idéia de um Deus único e absoluto. Isso simplesmente é uma agressão à história e à razão. Antes do surgimento do Deus de Moisés e de Abraão, o homem já desenvolvera normas morais. E, quanto ao ato de matar homossexuais simplesmente por serem homossexuais, no Ocidente não se poderia sequer imaginar tal coisa antes que Roma adotasse o Deus único dos cristãos”.
Bom, para Caetano Veloso, o raciocínio de Ariano no que concerne à frase do escritor russo Dostoiévski ( “Se Deus não existe, tudo é permitido”), não faz sentido porque, entre outros motivos, ”antes do surgimento do Deus de Moisés e de Abraão, o homem já desenvolvera normas morais”.
Mas será Caetano sabe da existência de algum povo que cultivasse uma “moral” sem que nela contivesse valores fundamentados no “divino”, no Sobrenatural ou no transcendente? Mesmo povos como os antigos maias, que sacrificavam pessoas em seus rituais, ainda estes tinham seu próprio código moral norteado por conceitos absolutos, cuja essência transcendia o humano. Portanto, como bem o disse Ariano Suassuna:
“A meu ver existe na inteligência humana uma centelha divina que sem ela não haveria a Nona Sinfonia, nem nada. “Como conciliar a existência do mal com a existência de Deus?” é a pergunta fundamental de todas as filosofias e religiões. Mas tem uma frase de Dostoievski que diz “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Na mesma hora entendi o que ele quis dizer. A norma moral tem que ter um fundamento absoluto, senão fica dependendo da opinião de cada um de nós.”
É isso!
O debate segue neste link do Orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=26796515&tid=2598048626770132714
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